Aula 3 – Anjo guardião de um Espírito das trevas

persons raising hands

Anjo guardião de um Espírito das trevas.

Um diálogo de ternura

Penso nessa música como um diálogo entre nós e nosso anjo guardião.

Dante’s Prayer by Loreena McKennit. (Tradução nossa).

Quando cai diante de mim uma floresta escura

E todos os caminhos estavam bloqueados

Quando os padres do orgulho afirmavam que não havia saída

Eu cultivava uma tristeza de pedra

*

Eu não acreditei por não ter visto

Ainda assim você veio me ver

Quando o nascer do sol parece para sempre perdido

Você apareceu e me mostrou seu amor na luz das estrelas

*

Projete os seus olhos no oceano

Projete sua alma no mar

Quando a noite parecer interminável

Por favor, lembre-se de mim

*

Um montanha ergue-se diante de mim

Movida pelo desejo

Originado da fonte do perdão

Superior ao gelo e ao fogo

*

Projete os seus olhos no oceano

Projete sua alma no mar

Quando a noite parecer interminável

Por favor, lembre-se de mim

*

Ainda que partilhemos esse humilde caminho, sozinhos

Sendo tão frágil o coração

Oh, dê a estes pés de barro, assas para voar

Para eu tocar a face das estrelas

*

Sopre a vida nesse fraco coração

Retire o véu mortal do medo

Junte  as esperanças despedaças e cauterizadas com lágrimas

Nós iremos nos erguer acima das coisas terrenas

*

Projete os seus olhos no oceano

Projete sua alma no mar

Quando a noite parecer interminável

Por favor, lembre-se de mim

Mais de 5 mil anos de trevas:

Livro dos Espíritos – Um anjo nunca abandona

495. Algumas vezes, o espírito protetor abandona o seu protegido, quando este é rebelde aos seus conselhos?

“Ele se afasta, quando vê que seus conselhos são inúteis e que a vontade de submeter-se à influência dos espíritos inferiores é mais forte; mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir; é, então, o homem quem tapa os ouvidos. Ele retorna, desde que seja chamado.”

496. O espírito que abandona seu protegido, não lhe fazendo mais o bem, pode fazer-lhe o mal?

“Os bons espíritos nunca fazem o mal; deixam que o façam aqueles que lhes tomam o lugar; então, acusais a sorte pelas desgraças que vos afligem, enquanto a culpa é vossa.”

497. O espírito protetor pode deixar seu protegido à mercê de um espírito que lhe deseje o mal?

“Para neutralizar a ação dos bons, há a união dos maus espíritos; porém, se o protegido o quiser, dará toda a força ao seu bom espírito. O bom espírito talvez encontre, em outra parte, uma boa vontade a auxiliar; aproveita para fazê-lo, enquanto aguarda seu retorno para junto de seu protegido.”

Livro dos Espíritos – O amor sempre respeita

498. Quando o espírito protetor deixa seu protegido extraviar-se na vida, será por impotência de sua parte, para lutar contra outros espíritos malévolos?

“Não é porque não possa, mas porque não quer: seu protegido sai das provas mais perfeito e mais instruído; ele o assiste com seus conselhos, através dos bons pensamentos que lhe sugere, mas que, infelizmente, nem sempre são ouvidos. Só a fraqueza, o descuido ou o orgulho do homem é que dão força aos maus espíritos; o poder deles sobre vós advém apenas do fato de não lhes opordes resistência.”

499. O espírito protetor está, constantemente, com seu protegido? Não haverá alguma circunstância em que, sem abandoná-lo, ele o perca de vista?

“Há circunstâncias em que a presença do espírito protetor junto de seu protegido não é necessária.”

Livro Libertação

“A recém-chegada pronunciou frases de paz, sem afetação, e endereçou-lhe a palavra em tom de infinita ternura: 

— Irmão Gúbio, agradeço-te o concurso dadivoso. Creio haver chegado, efetivamente, o instante de aceitar-te a ajuda fraterna em favor da libertação de meu infortunado Gregório. Espero, há séculos, pela renovação e penitência dele. Impressionado pelos imensos recursos do poder, no passado distante, cometeu hediondos crimes da inteligência. Internado em perigosa organização de transviados morais, especializou-se, depois da morte, em oprimir ignorantes e infelizes. Pelo endurecimento do coração, conquistou a confiança de gênios cruéis, desempenhando presentemente a detestável função de grande sacerdote em mistérios escuros. Chefia condenável falange de centenas de outros Espíritos desditosos, cristalizados no mal, e que lhe obedecem com deplorável cegueira e quase absoluta fidelidade. Agravou o passivo de suas dívidas clamorosas, trazidas da insânia terrestre, e vem sendo instrumento infeliz nas mãos de inimigos do bem, poderosos e ingratos… Há cinquenta anos, porém, já consigo aproximar-me dele mentalmente. Recalcitrante e duro, a princípio, Gregório agora experimenta algum tédio, o que constitui uma bênção nos corações infiéis ao Senhor. Já lhe surpreendo no espírito rudimentos de necessária transformação. Ainda não chora sob o guante do arrependimento benéfico e parece-me longe do remorso salvador; entretanto, já duvida da vitória do mal e abriga interrogações na mente envilecida. Não é tão severo no comando dos Espíritos desventurados que lhe seguem as determinações, e o colapso de sua resistência não me parece remoto. Nesse instante, notei que a venerável matrona derramava lágrimas discretas, que lhe deslizavam na face como sementes de luz. Parou por alguns momentos, controlada pelas reminiscências dolorosas, e continuou: 

— Irmão Gúbio, perdoa-me o pranto que não significa mágoa ou esmorecimento… Na pauta do julgamento humano comum, meu filho espiritual será talvez um monstro… Para mim, contudo, é a joia primorosa do coração ansioso e enternecido. Penso nele qual se houvera perdido a pérola mais linda num mar de lama e tremo de alegria ao considerar que vou reencontrá-lo. Não é paixão doentia que vibra em minhas palavras. É o amor que o Senhor acendeu em nós, desde o princípio. Estamos presos, diante de Deus, pelo magnetismo divino, tanto quanto as estrelas que se imantam umas às outras no império universal. Não encontrarei o Céu sem que os sentimentos de Gregório se voltem igualmente para a eterna sabedoria. Alimentamo-nos na Criação com os raios de vida imperecível que emitimos uns para com os outros. Como surpreender a perfeita ventura se recebo do filho amado tão somente raios de forças em desvario?”  

Diálogo mediúnico:

Fiquemos sempre em paz compreendendo que o Cristo vela por todos e que cada um possui um anjo guardião que cuida carinhosamente, não apenas da sua existência física, mas preocupa-se com as necessidades emocionais e espirituais a cada dia. Que age, que protege, que envolve, buscando sempre ampliar a compreensão, a capacidade de amar e, acima de tudo, estimular o caminho do bem, a marcha austera e difícil da ascensão espiritual que, uma vez realizada, soluciona todos os conflitos inferiores e abre ao ser as possibilidades da felicidade inabalável, a alegria infinita de saber-se amado por Deus e, por isso, merecedor, por misericórdia divina, de conquistar todas as belezas do universo. 

Podemos iniciar, minha filha. 

Estamos muito felizes com a sua presença hoje. A nossa primeira pergunta é a seguinte: no caso de espíritos que se vincularam ao mal de forma profunda, existe um modelo a ser seguido para o retorno ao bem? Passarão eles pelas mesmas experiências emocionais até se redimirem? E qual o papel do anjo guardião nesse processo? 

Podemos afirmar que, em termos gerais, falando de categorias amplas, todos viverão um processo muito semelhante. Aliás, Allan Kardec o apresenta em termos básicos no livro o Céu e o Inferno. Essa compreensão deverá expandir-se, é necessário o arrependimento, o reconhecimento que em algum instante da sua história espiritual ele optou pelo caminho contrário ao amor divino. É o início, a base, todos precisam viver isso. Não há um só caso em que o espírito transforma-se verdadeiramente sem esse passo inicial. É um passo que sugerimos que todos os espíritas reconheçam em si mesmos. Em algum momento houve o reconhecimento do desvio, mas é necessário que esse processo não seja apenas de uma vez. Falemos do exemplo a ser seguido de Paulo de Tarso: ao encontrar o Cristo ele reconhece, podemos dizer que há o grande reconhecimento, mas ao longo de uma década ele teve que desdobrar, especificar esse reconhecimento. Por exemplo, ele reconheceu que perseguiu o Messias, mas ele precisava rever todos os ensinos que tinha aprendido a partir desse reconhecimento. Precisou, por exemplo, meditar profundamente, sobre a força que amparava Moisés na travessia do deserto e chegou á conclusão de que essa força era o próprio Cristo. Em muitas dimensões suas emoções precisou ele alterar-se, reconhecer que estava no caminho errado. O padrão de relação com familiares, com amigos, tomou novo rumo. A resposta saudável precisava partir de que ele agora conhecia o Messias enviado de Deus. Os espíritas deveriam fazer o mesmo. É o que expressa Santo Agostinho e São Luís em o Livro dos Espíritos: toda noite fazer um balanço. Esse balanço tem que partir do reconhecimento que é: um dia estive no caminho do mal, reconheço isso. Como agi durante as últimas 12 horas? Em que momento o caminho do mal ainda persiste na minha vida? Em que situações as atitudes infelizes ainda se manifestam no meu ser? Consideremos, portanto, que é necessário um reconhecimento geral, imediato, mas que por si só não equaciona toda a problemática psíquica do ser. É necessário que diariamente esse reconhecimento geral seja aplicado no dia a dia. Por exemplo, o indivíduo abala-se excessivamente por uma contrariedade; se ele é honesto consigo, seguindo a orientação espírita, no momento da sua avaliação diária, ele há de reconhecer. Se eu reconheço o Messias, se sei que Ele é o enviado, o Cristo, se reconheço o amparo de meu anjo guardião, reconheço que permiti que o mal me dominasse naquele instante de desespero. Pois essa compreensão da vida, se vivida adequadamente, não deixa margem para o desespero. Então, voltando à resposta central, sim, há traços, há etapas indispensáveis, porém esses são marcos, depois da etapa do grande conceito, existe a continuidade que é a aplicação desta compreensão a milhares de esferas da vida emocional e de atitudes de cada ser. Allan Kardec inicia delimitando, marcando a primeira etapa: o arrependimento ou o reconhecimento, em seguida a disposição em aprender. Porque a expiação é a disposição íntima do espírito aprender e isso é muito mal compreendido hoje, porque na mente de muitos a expiação é uma espécie de tortura quando, na verdade, a expiação é a disponibilidade íntima do indivíduo vivenciar experiências educativas. Se joguei pessoas na lama eu preciso primeiro entender o que significa estar na lama. Por quê? Porque o passo seguinte é a reparação. E eu só posso reparar algo que eu conheça. Utilizaremos um exemplo ainda mais didático: eu quebrei um aparelho de rádio, arrependi-me. Quero reparar esse aparelho radiofônico. O que eu preciso? Aprender, estudar: como funciona esse aparelho? Para que, depois que eu entenda, eu possa restaurá-lo. Eu agi de tal forma a perturbar psiquicamente os indivíduos. Eu preciso entender de forma profunda o que é a perturbação psíquica para que depois eu possa ajudar com eficiência. Como o farei? Irei me candidatar a viver experiências semelhantes, para que depois, entendendo do ponto de vista vivencial o que são essas experiências eu complete os meus estudos teóricos e me torne alguém capaz de reparar esse erro. A expiação, portanto, como aponta Allan Kardec, ela é um aprendizado. Não é um permitir que a vingança divina atue em mim, não é uma concepção espírita nem cristã essa. É a necessidade de se vivenciar algo para que, no passo seguinte, eu esteja capaz e apto a reparar. Portanto, podemos, de forma inicial, elencar esses três grandes momentos: arrependimento ou reconhecimento, expiação ou preparação e reparação ou prática do bem. A herança medieval causou um verdadeiro distúrbio nessa compreensão. Por isso nos alongamos tanto na resposta. Até ousando-a atribuir ao grande Codificador uma mentalidade inferior, não é o caso. São termos que é preciso que o indivíduo se capacite para compreender e mesmo correlacionar com termos mais atuais. Podemos dizer, portanto, minha filha, que há sim três etapas centrais: reconhecimento, preparação e reparação. Para quem tenha dificuldade ou deseja entender esse tema convidamos a leitura da obra O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo, porque ali veremos depoimentos extremamente instrutivos, em que um espírito diz: fui um mal profissional, um mal médico, reencarnei para sofrer para depois eu poder entender melhor, porque ele tinha um saber intelectual, mas ele não tinha a compreensão do que era ser um paciente necessitado. Então, expiação não é completar uma determinada cota de sofrimento, até porque sabemos que o sofrimento no mundo espiritual é muito mais intenso do que o sofrimento no plano material, por um motivo óbvio: a sensibilidade do corpo espiritual é muito maior. Então, não se trata de nascer para sofrer. É inútil que os padres, que merecem nosso respeito, mas não são honestos quando, mantendo a sua postural medieval, querem falar em nome do Espiritismo afirmem que se nasce para simplesmente completar uma cota de sofrimento. O sofrimento é algo indispensável, mas não para pagar uma dívida, para o processo de aprendizado do espírito. Você pode inclusive sofrer menos e aprender mais. A prova é que todos sofrem, e os líderes das trevas reencarnados que continuam vinculados às trevas também sofrem. Trata-se de priorizar o que ensina Allan Kardec: aprender com o sofrimento. Mas não se trata apenas de sofrer. Esta é a segunda etapa. A terceira etapa é a etapa da reparação. Mas não são etapas em que o indivíduo simplesmente passa e ignora, elas são cumulativas. O espírito que está em fase de atuar na reparação ele ainda precisa aplicar em si a lógica do arrependimento, ele ainda precisa da dor que ensina. Portanto, Allan Kardec não diz que são 3 etapas separadas e distantes, o que ocorre é que em um momento predomina o arrependimento ou o reconhecimento. Em um segundo momento predomina a preparação ou expiação, como queira chamar. Em um terceiro momento, predomina a reparação. Mas as 3 fases estão sempre presentes em graus muito variados. Porque observemos o exemplo de Paulo de Tarso: ele está no deserto; o que predomina ali senão o arrependimento? Mas, ao interagir, ele já inicia uma fase de reparação. Ao desculpar-se ele inicia uma fase de reparação. E mesmo antes de ir para o deserto, na sinagoga, ali há uma tentativa de reparação. Portanto não sejamos aqueles que expressam uma visão de vida de isolamento. Todas as fases estão presentes. O que haverá é algo que irá predominar. Na terceira parte da pergunta, sobre o anjo guardião: ele será o grande maestro de condução para todas essas fases. Estamos falando, muitas vezes, de planejamentos que chegam a atingir a categoria milenar. Então, o anjo guardião irá trabalhar dialogando e respeitando o livre-arbítrio de seu protegido, mas estimulando para que cada uma dessas etapas possa ser vivenciada. Muitas vezes, segundo o livre-arbítrio do espírito, uma fase exigirá uma atuação ainda mais direta do que outra, ou determinado momento de determinada fase. Mas, certamente, podemos dizer que o anjo guardião sempre terá essa referência: o arrependimento, a preparação e a reparação segundo o espírito, a sua fase evolutiva e o mundo em que ele habita.

Muito obrigada pela sua resposta. A nossa segunda pergunta é: como o anjo guardião lida com a tristeza de ver seu protegido desviar-se pelo caminho do mal?

Num sentido imediato, é uma dor que ele optou por viver. Existem várias formas de lidar com esse sofrimento que irá variar segundo o perfil psicológico, espiritual de cada anjo guardião. Em termos gerais, o grande consolo é a compreensão do tempo de uma forma muito, muito mais extensa. Então, poderá o anjo guardião alimentar-se na esperança que guarda a convicção de que no futuro, talvez um futuro que demore 2 ou 3 milênios, o seu protegido atingirá o ponto de redenção relativa, mas muito preciosa. Portanto, o grande amigo do anjo guardião, podemos dizer, é a compreensão da eternidade. Porque, muitas vezes, trabalham por 10, 20 mil anos, em variados planetas, em condições mais diversas, para um dia poder ver lágrimas sinceras de busca de espiritualidade superior brotarem dos olhos de seus protegidos. São cenas comoventes a que tantas vezes presenciamos: espíritos que por rebeldia possuíram um ciclo de aprendizado ampliado em 20 mil anos mas que também como todos chega ao seu momento de redenção. E isso ocorre em todos os mundos em que a maldade ainda predomina. Sabe o anjo guardião que um dia todos esses milênios de angústia, de trabalho e de intenso sofrimento, mas também de uma imensa ternura chegarão ao fim com um resultado maravilhoso. Enfrenta com coragem e de terminação todas as dores dos mundos inferiores somente aqueles que já se tornaram capazes de olhar para a imensidade dos milênios futuros e que são capazes de pensar em termos de milhões de anos. O Criador é portador de consolos inimagináveis e oferta a todos aqueles que decidem elevar a sua compreensão da vida. Assim, minha amiga, os anjos guardiões são seres capazes de atravessar milênios de labores duros e intensos com a convicção que um dia o amor predominará no coração de seus protegidos e que eles renderão graças ao Pai por todas as dores, porque sabem que das dores é que brotam as felicidades que nunca serão abaladas em toda a eternidade. 

Paz, 

De vossa irmã e amiga,

Patrícia. 

Agradecemos a sua presença, Patrícia. Como primeira pergunta, deve o anjo guardião apontar os erros de seu protegido quando este escolhe o caminho da maldade?

O anjo guardião sempre irá mostrar ao seu protegido quando este está se equivocando. Não necessariamente irá aparecer para ele e pontuar tudo aquilo que o afasta da paz e da harmonia do universo, mas, certamente, irá mostrar por meio de situações e irá inspirar outras pessoas, em comentários diretos ou indiretos, para que ele possa despertar a compreensão quando está tomando atitudes equivocadas.

É muito comum, frequente mesmo, que os anjos guardiões inspirem aqueles que estão ao redor de seu protegido. Muitas vezes, em meio a uma conversa, em um diálogo casual, o anjo guardião faz com que o interlocutor relembre de uma história, de um ditado, de algo que aconteceu com a sua própria vida e compartilhe com o seu protegido, visando que seu protegido reflita sobre pontos, de sentimento e de ação, que estão em discordância com a harmonia e com a busca da felicidade verdadeira.

Podemos dizer que o anjo guardião sempre mostra, das mais diversas formas, quando o seu protegido está desviando-se do caminho do bem.

Quando um espírito opta pela maldade, ele ainda consegue sentir as vibrações de seu anjo guardião?

Podemos dizer que as vibrações do anjo guardião sempre buscam envolver o seu protegido. Porém, é da lei do livre arbítrio que esta assimilação, maior ou menor, profunda ou superficial, ocorra segundo a disposição íntima do protegido. Essa é uma lei que está presente em todas as relações com o anjo da guarda.

Quando o indivíduo abre o seu coração, a lei permite que ele sinta em maior intensidade o amor, o amparo e mesmo os avisos do seu anjo guardião. Quando este indivíduo se revolta, naturalmente, a sua percepção irá ser minimizada ou diminuída segundo o grau da sua revolta ou da sua maldade.

Como o anjo da guarda lida com a tristeza de ver seu protegido afastando-se do caminho do Bem?

Certamente, é uma tristeza profunda e comovedora observar que se desvia, aquele que se ama e aquele que o Pai criador designou para que você cuidasse. Contudo, a tristeza do anjo guardião jamais está mesclada com nenhum aspecto de complexo de culpa ou de autocondenação. Por outro lado, os espíritos superiores conseguem compreender que a vitória do bem se concretizará mais cedo ou mais tarde.

Portanto, se o desvio do protegido traz amargura e tristeza ao coração do anjo guardião, existem também infinitos consolos, pois quando um espírito compreende a misericórdia das leis do Pai saberá que logo que seu protegido decidir intimamente retornar harmonia e a luz, Deus permitirá a sua atuação mais direta e que, no futuro, ambos sentirão e olharão as experiências infelizes como uma escola abençoada e essas experiências serão utilizadas para o benefício de dezenas de outros espíritos e, acima de tudo, serão os degraus que guiarão ambos a uma felicidade mais plena e mais ampla. Porque, minha filha, a lei de Deus é da misericórdia.

Quando um espírito superior abre seu coração para uma relação de amor profundo com o seu protegido e o conduz a um patamar evolutivo superior, ele receberá, de forma espontânea, ao longo dos milênios futuros, a alegria que ele construiu no coração de seu protegido.

Embora o anjo superior não aja com esse interesse é da lei da misericórdia, que uma vez que o seu protegido se converta em espírito lúcido e amoroso, por toda a eternidade, ele irá pagar espontaneamente em vibrações de felicidade e gratidão o amor devotado por seu anjo guardião.

Podemos dizer, falando didaticamente, aos corações da Terra, ainda tão viciados na lógica do ganho, que a misericórdia realiza sempre os maiores ganhos. Porque o investimento do amor, por mais que dure milênios, ele sempre trará resultado por um tempo infinitamente superior. O resultado do plantio do amor é sempre alegria e paz multiplicadas ao infinito.

Portanto, se rude e austera é a tarefa dos anjos guardiões, que amparam espíritos em situações de infeliz maldade, certamente, o pagamento do amor compensará tudo. A ordem do universo é estruturada pela paz e pela luz eterna.

Pode o anjo da guarda interditar totalmente seu protegido, caso este opte por um caminho contrário as Leis de Deus?

Jamais. Porque cabe ao Criador definir todos os parâmetros do universo. E o Criador, uma vez que instituiu a lei do livre arbítrio, apenas ele poderia, falando teoricamente, aniquilar por completo o livre arbítrio da criatura. Ao anjo guardião é permitido sim, interferência significativa, mas, nunca, de forma nenhuma, aniquilar em totalidade o livre arbítrio do protegido.

Como foi observado, no início de nosso encontro, sobre a relação de um espírito verdadeiramente superior com seu protegido, é necessário um convencimento, uma aproximação energética, que depende sempre do espírito do protegido e nunca uma imposição absoluta de seu anjo guardião.

É possível ao anjo guardião resgatar seu protegido das regiões inferiores, mesmo que este não queira sair destas regiões?

Se a intenção profunda do indivíduo é permanecer lá, cabe ao anjo da guarda respeitá-la.

O trabalho desenvolvido será mais lento, será um trabalho de verdadeiro convencimento, jamais um trabalho de imposição, porque a luz não se impõe,  a luz deve brotar de dentro para fora. Nenhuma luz externa será eterna. Toda luz interna será para sempre.

Compreendendo essa realidade, o anjo guardião jamais se apressa em impor uma conduta de luz ao seu protegido, mas sempre se dedica constantemente para que seu protegido permita que a luz do Criador nasça nele, pois essa é a única maneira verdadeiramente segura de se conquistar uma felicidade inabalável.

Cabe ao anjo guardião algum tipo de responsabilidade por aqueles que seu protegido prejudicou?

Certamente. Caberá ao anjo guardião ensinar ao seu protegido a reparar em totalidade todos os erros. Como já afirmamos a missão do espírito guardião é encaminhar o protegido ao Criador e para que isso seja feito é necessário que nenhuma culpa e nenhum erro pese na consciência do protegido.

Ao anjo guardião cabe o programa de resgate de todos os erros do espírito do protegido. Erros no sentido da maldade consciente e lúcida realizada contra outros irmãos. Assim podeis entender, sem nenhum espanto, que os planejamentos reencarnatórios organizados por um anjo da guarda, frequentemente, atravessam os milênios. São milênios executados com amor e devoção para que o protegido alcance a felicidade plena.

Como é a relação entre dois anjos guardiões que têm protegidos que são inimigos?

De amor profundo. Frequentemente, esses espíritos se reúnem, quando falamos de inimizades intensas, para buscar fórmulas e meios, para estudar em quanto tempo será possível desfazer aquela inimizade.

Acompanhamos processos em que anjos guardiões atuaram em conjunto, ao longo de milênios, para que somente depois os seus protegidos pudessem encontrar-se e superar ódios milenares. Porque, muitas vezes, esses espíritos carregam ódios trazidos de outros planetas e não será  uma comunicação ou uma experiência que os fará superar. Estamos diante de planejamentos complexos, porque, muitas vezes, são espíritos que mobilizaram outros espíritos em seus intuitos de maldade.

Imagine, por exemplo, falamos a título didático, que dois reis são inimigos cruéis e mobilizam centenas de pessoas para prejudicar um ao outro. Após que seja desfeita a inimizade pessoal, deverão ambos trabalhar em conjunto para resgatar todas as pessoas que incitaram a maldade.

Portanto, num caso como esse, o desfazer da inimizade é apenas uma etapa. O desfazer da inimizade será o início da construção de uma amizade pautada, agora, em mobilizar as forças em conjunto para o resgate do mal realizado em separado, de um contra o outro.

E se um protegido for vítima e o outro for agressor, como se dá a relação entre os seus anjos da guarda?

Para os espíritos que já compreenderam a realidade divina da criação não há vítima. Sempre a lei de Deus impera. Não há nenhuma possibilidade de anjos guardiões tornaram-se, sequer, menos simpáticos um para com o outro por conta da conduta inferior de seus protegidos.

O frequente, o comum, o que acompanhamos diariamente, é o consolo mútuo entre esses espíritos, porque eles sabem o quanto dói ver o seu protegido praticando a maldade. Frequentemente, o anjo guardião da suposta vítima é que consola o anjo guardião do agressor, porque ele compreende, do ponto de vista espiritual superior, que sofrer não é problema. Realizar o mal é o grande problema, é o que traz tristeza ao coração de um anjo da guarda, porque o sofrimento bem suportado, sabemos, todos nós que conhecemos os postulados espíritas, é a porta aberta a redenção.

Como pode o anjo guardião intervir na ação de seu protegido quando este se torna um espírito voltado para o mal?

Caberá um estudo complexo e específico de cada caso. Caberá, muitas vezes, a consulta de grupos de anjos guardiões experimentados nessa tarefa e caberá um planejamento longuíssimo.

Quais as brechas do coração do protegido em que eu poderei projetar minha luz? Não teremos nunca uma definição rígida de ação, minha amiga, será preciso o estudo da personalidade. Por isso, existem tarefas que apenas os anjos guardiões e os espíritos puros estão aptos a desempenhar, porque é necessário conhecer a gênese daquele espírito ao longo de dezenas de milênios, para que com essa compreensão se possa encontrar os melhores meios, técnicas e fórmulas específicas para o resgate de um espírito que opta por tornar-se um líder das trevas.

Em algum momento o anjo da guarda se afasta totalmente de seu protegido em definitivo?

Jamais o anjo guardião se afasta totalmente de seu protegido. Haverá sempre uma distância, segundo a disposição do coração de seu protegido, porque muitas vezes o protegido cria barreiras que geram esse afastamento.

Também podemos dizer que jamais um anjo guardião abandona seu protegido. Lembremos: ao espírito superior jamais caberia a postura de revolta contra o Criador do universo.

Portanto, o amor que vincula o anjo guardião ao seu protegido, podemos dizer, sem nenhum exagero, é um amor inquebrantável. Não importa o que um protegido faz, quantas pessoas mate, quantas pessoas ele traga sofrimento e dor, jamais ele será abandonado pelo seu anjo guardião.

Os vossos maiores criminosos jamais foram abandonados por seus anjos guardiões. Não há possibilidade no universo de um abandono total, pleno e definitivo de um anjo guardião por seu protegido.

O que há é um olhar amoroso de espera consciente. O que há é um estudo minucioso das formas possíveis de amparo ao longo dos séculos e dos milênios, e se necessário for, ao longo de dezenas de milênios.

Acompanhamos anjos guardiões que amparam seus protegidos ao longo de diversos mundos, pois eles, muitas vezes, são repetidas vezes expulsos por atos de ódio e de crueldade em massa. Ainda assim, podemos afirmar: jamais existirá um indivíduo que por sua inferioridade não tenha um anjo guardião. Jamais. Isso seria depor contra a misericórdia do Criador.

Ao contrário, à medida em que o anjo guardião vê o seu protegido enfurnar-se nos caminhos do erro e da escuridão, ele buscará sempre mais ajuda e terá acesso ao amparo maior para que consiga equacionar os equívocos de seu protegido, no sentido de criar processos reeducativos para que seu protegido retome ao caminho que leva ao Pai.

Você teria alguma história de uma relação anjo-protegido que pudesse compartilhar conosco e que nos ajudasse a melhor entender como um espírito superior acompanha e ampara um espírito que opta pela maldade?

Traremos, para encerrar, um depoimento de um espírito, hoje amigo, ligado a nós por laços de afeto e de carinho para que possamos encerrar, esse encontro, com o depoimento de alguém que, por muito errar, está hoje aprendendo a muito amar.

Portanto, me despeço, desejando a todos reflexões e paz para que os vossos corações se conectem em profundidade aos vossos anjos da guarda.

De vossa amiga e irmã, Patrícia.

Depoimento

O que eu venho dizer aqui hoje é a minha história. Não sou nem de perto  espírito superior, na verdade, eu muito lutei na Segunda Grande Guerra. Estava ao lado dos alemães. No nazismo. E ali pude dar espaço e vazão a todas as crueldades que eu tinha no meu coração. Ali pude manipular e usar o ser humano das formas que a maioria hoje não conseguiria sequer imaginar.

Fizemos isso com muita maldade, sempre acobertando tudo como pesquisas científicas e técnicas, como pesquisas que teriam grandes resultados. Mas, em nossos corações, o que nos dava prazer era maltratar, destruir o ser humano, fazer dele objeto de laboratório, cortar das mais diversas formas e sem nenhum sentimento de piedade, de carinho. Utilizamos o corpo do ser humano de uma maneira muito pior do que se utiliza animais de laboratório.

Mas, minha história, como vocês sabem, não terminou com a minha morte. O suicídio que cometi não resolveu nada e fiquei vagando.

O que eu quero dizer, apenas, que minha situação ainda é muito ruim, se comparado com quem está bem, mas, algo me comoveu muito, porque fui resgatado por um espírito, por esse espírito que me trouxe aqui, e, depois, tive que descobrir algo muito terrível.

Que fui resgatado por esse espírito, porque eu fiz muitas crueldades com o protegido, um espírito protegido dela. E isso foi a minha pior lição, porque ela, ao ir acompanhar o desencarne de seu protegido se compadeceu de mim e, porque mesmo fazendo todas as crueldades, eu tive um pequeno sentimento de, não digo carinho, mas de quase arrependimento. Isso foi o ponto que abri para ser resgatado por esse espírito, e vocês podem se perguntar: e seu anjo guardião? Depois vim descobrir, meu anjo guardião, é, também, esse próprio espírito.

Não sei se me fiz entender, eu e o espírito que eu torturei temos o mesmo anjo guardião. Já tínhamos.

Primeiro descobrir que eu fui resgatado pelo anjo guardião de quem torturei, depois soube que eu também era seu protegido, quando eu perguntei se eu não tinha anjo da guarda e esse espírito disse: você também é meu protegido.

É muito difícil para mim organizar tudo isso, porque sempre vi pessoas divididas em amigos e inimigos, em pessoas que mereciam ser protegidas e respeitadas e outras que eu poderia fazer o que quisesse.

Mas, eu fiquei diante dessa situação. Como entender isso? Esse espírito ama a nós dois, nos protege, nos ajuda a ambos, nos ama intensamente: a minha vítima e eu, carrasco.

Esse depoimento vim trazer como parte também da minha recuperação. Para mostrar para vocês o quanto é tolo acharmos que o mundo é dividido de qualquer forma, porque as leis de Deus, a organização da vida verdadeira, quem de fato manda e comanda o mundo, nunca considera isso. Sempre considera que todos somos irmãos, independente de como estejamos em qualquer momento.

Esse é meu depoimento que vim trazer para vocês, que espero que ajude você entender que, muitas vezes, agredimos as pessoas que nunca deveríamos agredir, ou melhor dizendo, nunca devemos separar ninguém, porque não sabemos de nada, não temos noção do que é a vida, mas precisamos saber que ela tem uma lógica e que, mesmo sem conhecermos tudo, é muito bom, muito importante seguir essa lógica para que não tenhamos tanta amargura no coração e para que quando começamos ver, nos sintamos alegre e não penalizados por nossa tolice, nossa grosseria emocional e mental.

Assim me despeço, desejando que minha história sirva para vocês.

Exercício emocional – uma carta para o teu anjo da guarda.

Fale para seu anjo guardião o que você sente por ele e de uma forma muito específica explique o que você espera dele, como você deseja que se desenvolva a relação de vocês.

Essa carta pertence a vocês dois.

Abra seu coração, certamente, ele lerá com carinho o que você escrever. 

Prática:

Torne o estudo de hoje espiritualmente significativo. São três passos importantíssimos a serem dados.

LEMBRE-SE​: Lembre-se de alguém que você muito magoou ou prejudicou. Olhe para essa pessoa. Compreenda a dor dessa pessoa. Não importa o grau de responsabilidade dela. Entenda a dor que você gerou.

MENTALIZE​: Mentalize agora o anjo guardião desta pessoa. Sinta sua energia, seu afeto e carinho. Olhe-o nos olhos. Converse com ele. Diga o que verdadeiramente sente. Ele é um bom espírito. Sinta que ele te ama.

PERDOE-SE​: Sentido-se amado, perdoado. Perdoe-se. Envolva em amor a pessoa que você causou dor. Não esqueça: todos os erros podem ser reparados e a reparação começa dentro de você.

Ainda falta aos homens um imenso progresso a realizar: o de fazerem reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade para assegurar o bem-estar moral.​

Allan Kardec
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