Resumo
Nesse encontro – Anjo guardião relação de Amizade -estudamos a relação de Eurípedes Barsanulfo com seu espírito protetor Vicente de Paulo.
Encontro, Educação Espírita: um Convite à Juventude
Encontro 02: Anjo Guardião, uma relação de amizade
1ª pergunta: Agradecemos a sua presença Patrícia e, como primeira pergunta, qual a relação entre a personalidade de Eurípedes Barsanulfo e de seu guia Vicente de Paulo?
A relação do anjo guardião com seu protegido, sob o aspecto da personalidade, é um dos fatores centrais que se deve buscar para entender porque o espírito A foi eleito por Deus para ser guia espiritual do espírito B.
Muitos, inadvertidamente, poderiam pensar que basta ser um espírito superior e ter conhecimento e virtudes para que se possa tornar espírito guia de qualquer outro espírito menos evoluído. Esse erro comprova a pouca penetração do pensamento do indivíduo quando este se utiliza do Espiritismo como uma doutrina teórica e não como uma estrutura conceitual que deve ser utilizada para examinar a vida e a relação entre os seres.
Esta escolha, portanto, minha filha, é algo de extrema importância, pois não basta estar acima do indivíduo na Escala Espírita para poder se tornar o anjo guardião.
Se todo espírito mais evoluído pode e deve influenciar positivamente no espírito menos evoluído, para tornar-se anjo guardião é necessário uma complementaridade de personalidade, de traços centrais de cada individualidade que se complementem e que se estimulem em profundidade.
Dito isso, podemos analisar que existe traços centrais que tornam a própria interpenetração dos fluidos entre Vicente de Paulo e Eurípedes algo profundamente poderoso.
Podemos destacar, sem invadir a intimidade desses dois grandes espíritos que muito admiramos, a disposição de entregar-se a Deus. Eurípedes, em sua última existência, não apenas cumpriu uma missão externa. A sua realidade íntima foi muito mais desenvolvida do que qualquer realização no mundo da matéria, pois ele deu um passo, que os encarnados não podem avaliar, no seu poder íntimo de entregar-se a Deus.
A confiança desse espírito em sua relação com Deus abriu-se de tal forma que ele passou a nada mais temer. Ele foi capaz, minha filha, numa pequena cidade do interior do Brasil, cercado das ameaças mais intransigentes em relação a sua fé, viver pacificamente. Não bastasse isso, a intensa movimentação espiritual para que a sua missão fosse distorcida era ativa e cruel, era ameaçadora e, podemos mesmo dizer, avassaladora, não fora a capacidade desse espírito entregar-se a Deus. É essa, minha filha, é a característica central do amigo Vicente de Paulo: um espírito que nada teme, um espírito que se alegra com as adversidades; um espírito que quanto mais se sente fraco mais se felicita, porque mais sente que está, simbolicamente, podemos dizer, nas mãos do Pai.
Isso aprendeu Eurípedes com seu guia espiritual. Por isso ele foi capaz de, visitando a gruta que era de sua cidade, entrar solitariamente nas próprias profundezas da terra, solitário, e ali dialogar com espíritos terríveis que se mancomunavam para atacá-lo.
Certa feita, seu guia lhe aparece, e diz: meu filho, está na hora de você desfazer o grupamento que tanto lhe ataca. Vá solitário à Gruta dos Palhares, vá para tal localização a muitos metros abaixo da superfície da terra e ali você encontrará muitos dos seus piores opositores. Vá lá desarmadamente e demonstre amor, eu estarei com você. Mas, acima de tudo, sinta: você está nas mãos de Deus. E, assim, esse espírito passou a solitariamente, descendo inclusive fisicamente ao submundo, a dialogar com aqueles que o odiavam profundamente.
Esse é o traço profundo. E assim como bom discípulo de Vicente de Paulo, Eurípedes adquiriu uma fé inabalável em Deus. Nada pôde abatê-lo: nem a ameaça da prisão física, nem o ataque continuado das trevas, nem a má vontade humana. E assim, ele realizou as mais extraordinárias cirurgias mediúnicas; e assim, ele amparou a todos os seus alunos, porque se sentia ligado ao próprio Criador do universo.
2ª pergunta: Eu gostaria de saber, quais as decisões dos encarnados que mais interessam a seus anjos guardiões?
Podemos ver, ainda citando didaticamente o exemplo desses dois amigos, que a primeira comunicação direta de Vicente de Paulo a Eurípedes foi sobre a relação de Eurípedes com o Cristo. Isso é o que mais interessa para todos os anjos guardiões: orientar o seu tutelado para que ele acerte no caminho que o liga ao Mestre de Nazaré. Por isso, a comunicação de Vicente de Paulo foi clara e direta, pois assim deveria ser. Eurípedes deveria abandonar a Igreja e dedicar-se ao Consolador prometido por Jesus.
Essa é a preocupação central. O espírito encarnado tem como objetivo central aproximar-se do Cristo e essa é a principal preocupação do guia espiritual, quando o seu espírito protegido está encarnado, porque no mundo da matéria a probabilidade de que o indivíduo se permita ser vencido pelos impulsos inferiores é muito mais alta do que no plano espiritual.
3ª pergunta: Deve o anjo da guarda ser o único espírito a se comunicar com seu protegido?
De forma nenhuma. Um espírito que clame exclusividade e controle absoluto sobre outro, independente de qualquer pretexto, é um espírito inferior. Porque o exemplo máximo é o próprio Cristo e nunca ele exigiu dos seus discípulos mais diretos nenhum tipo de exclusividade, ao contrário. Quanto mais lúcido e amoroso é o espírito mais ele compreende a beleza e o valor das múltiplas relações humanas para o enriquecimento da obra do Pai.
Não existe possibilidade de um anjo guardião que, por definição é um espírito superior, agir de forma exclusivista ou ciumenta com seu protegido, ao contrário, ele será o primeiro a estimular que esse indivíduo enriqueça as suas relações com espíritos mais elevados e menos elevados do que ele.
O que preocupa, o que é objeto de atenção do anjo guardião, é a qualidade dessas relações. Eurípedes era orientado por Vicente de Paulo a relacionar-se com espíritos inferiores: com aqueles que o perseguiam, com aqueles que buscavam distorcer sua missão no mundo, preocupando-se apenas, orientando, como era seu papel, que essa relação fosse sempre baseada na misericórdia e no Evangelho. Mas nunca agiu, como nenhum anjo guardião nunca agirá, limitando a vida emocional de seu protegido, pois apenas uma vida emocional rica com uma pluralidade de relações baseadas no Evangelho poderá auxiliar ao seu protegido a elevar-se na Escala Espírita.
4ª pergunta: Como o anjo da guarda exerce influência em relação aos espíritos que se relacionam com seu protegido?
Cabe ao anjo guardião ensinar ao seu protegido relacionar-se com cada espírito de personalidade diversa; cabe ao anjo da guarda ensinar a seu protegido relacionar-se com os criminosos, do além e encarnados; cabe ao anjo da guarda ensinar ao seu protegido relacionar-se com os poderosos, sem se contaminar e sem ser subserviente; cabe ao anjo da guarda ensinar ao seu protegido relacionar-se aos espíritos iluminados, sendo obediente e humilde, reconhecendo a sua inferioridade e, ao mesmo tempo, abrindo o coração para que haja um real aprendizado nesta relação. São apenas exemplos para ilustrar a minha resposta anterior.
Ao anjo guardião interessa que o seu protegido saiba valorizar a sua relação com todos os tipos de espíritos, encarnado e desencarnado; com todos os tipos de espíritos nas mais diversas classes sociais; com todos os tipos de espíritos das mais diversas classes sociais do mundo espiritual, para que em cada relação ele consiga aplicar em si mesmo o Evangelho do Cristo, agindo da maneira adequada segundo as sábias e elevadas leis de Deus.
5ª pergunta: Pode o anjo da guarda bloquear a comunicação de outros espíritos com seu protegido?
Em casos excepcionais, se julgar necessário, o anjo da guarda pode evitar que determinados espíritos se aproximem de seu protegido, pois, como dissemos, interessa a ele que seu protegido aprenda a relacionar-se com todos os tipos de espíritos. Porém, se observa o anjo guardião, que o seu protegido ainda não tem possibilidade de tirar um fruto espiritual de algum tipo de relação, que aquela relação poderá ser, que será certamente cem por cento prejudicial, sem que seu protegido sequer note o anjo guardião irá protegê-lo. O que significa, falando de outra maneira: se o indivíduo teve alguma relação de encarnado ou desencarnado é porque o seu anjo guardião vê, claramente, que existe possibilidade real daquela relação ser produtiva no aspecto espiritual; de que aquela relação poderá produzir sabedoria em seu protegido, cabendo ao protegido usar seu livre-arbítrio para que isso se concretize.

