Nova-Geração # 177 – Entre mim e mim, há vastidões.

Apresentamos uma experiência incomum analisada por Allan Kardec na Revista Espírita: regressão de memória por meio de uma técnica que hoje chamaríamos de imaginação ativa em um espírito desencarnado. O Espírito vê suas outras personalidades em uma reunião!

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Noções

Cecília Meireles

Entre mim e mim, há vastidões bastantes

para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que

a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,

só recolho o gosto infinito das respostas que não se

encontram.

Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a

Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,

e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é a minha alma:

qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e

precário,

como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e

inúmera…


Livro dos Espíritos

Parte 2. Capítulo VI. Recordação da existência corporal

307. Como a vida passada se desenha na memória do espírito?

Será por um esforço de sua imaginação ou como um quadro que tem diante dos olhos?

“Um e outro; todos os atos cuja lembrança lhe interessa são, para ele, como que presentes; os outros permanecem mais ou menos vagos no pensamento ou, completamente, esquecidos. Quanto mais desmaterializado, menos importância dá às coisas materiais. Evocas, com frequência, um espírito errante que acaba de deixar a Terra e que não se lembra dos nomes das pessoas que ele amava, nem de muitos detalhes que te parecem importantes; como se preocupa pouco com estas coisas, logo caem no esquecimento. O de que se lembra muito bem são os fatos principais que o ajudam a se melhorar.”

308. O espírito se lembra de todas as existências que precederam a que acaba de deixar?

“Todo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas percorridas pelo viajante; porém, nós o dissemos, ele não se lembra de uma forma absoluta, de todos os seus atos; lembra-se deles em razão da influência que exerceram sobre seu estado atual. Quanto às primeiras existências, aquelas que podem ser consideradas como a infância do espírito, elas se perdem no vago e desaparecem na noite do esquecimento.”

Revista Espírita 1866

 

(Sono dos Espíritos) Pelo Dr. Cailleux

(Sociedade espírita de Paris, 11 de maio de 1866 – Médium: Sr. Morin)

Vosso bom acolhimento e as boas preces que fizestes em minha intenção obrigam-me a vos agradecer vivamente e vos assegurar o meu eterno devotamento. Desde a minha entrada na verdadeira vida, bem depressa familiarizei-me com todas as novidades, nas muito suaves exigências de minha situação atual. Hoje me chamam de todos os lados, não mais, como outrora, para dar meus cuidados aos corpos doentes, mas para levar alívio às doenças da alma. A tarefa é suave para desempenhar, e com mais rapidez do que outrora eu chegava à cabeceira dos doentes, hoje atendo ao chamado das almas sofredoras. Posso mesmo e isto nada tem de admirável para mim transportar-me quase que instantaneamente de um a outro ponto, com a mesma facilidade com que o meu pensamento passa de um a outro assunto. Apenas o que me admira é que eu possa fazê-lo, eu mesmo!… 

Meus bons amigos, tenho que vos falar de um fato espiritual que me acontece, e que venho submeter ao vosso julgamento, para que me ajudeis a reconhecer o meu erro, se eu estiver enganado em minhas apreciações a respeito. Sabeis que como médico, em minha última encarnação, eu tinha-me dedicado com ardor aos estudos de minha profissão. Tudo quanto se referia à Medicina era para mim assunto de observação. Devo dizer, sem orgulho, que tinha adquirido alguns conhecimentos, talvez porque nem sempre seguisse ao pé da letra a rota traçada pela rotina. Muitas vezes buscava no moral o que pudesse trazer perturbação ao físico; talvez seja por isto que eu conhecia minha profissão um pouco melhor do que certos colegas. Enfim, eis o caso: Há alguns dias senti uma espécie de torpor apoderar-se de meu Espírito, e embora conservando a consciência de mim mesmo, senti-me transportado no espaço; quando cheguei a um lugar que para vós não tem nome encontrei-me numa reunião de Espíritos que em vida tinham adquirido alguma celebridade pelas descobertas que haviam feito. 

Lá fiquei muito surpreso ao reconhecer nesses anciãos de todas as idades, nesses nomes de todas as épocas, uma semelhança perispiritual comigo. Perguntei-me o que tudo aquilo significava; dirigi-lhes as perguntas que me sugeria a minha posição, mas minha admiração foi ainda maior, ouvindo-me responder a mim mesmo. Voltei-me, então, para eles, e encontrei-me só. Eis minhas deduções… 

DR. CAILLEUX 

NOTA: Tendo parado aí, o Espírito continuou na sessão seguinte. 

A questão dos fluidos, que constitui o fundo dos vossos estudos, representou um papel muito grande no fato que eu vos relatava na última sessão. Hoje posso explicar-vos melhor o que aconteceu e, em vez de vos dizer quais eram as minhas conjecturas, posso dizer-vos o que me revelaram os bons amigos que me guiam no mundo dos Espíritos. 

Quando meu Espírito sofreu uma espécie de entorpecimento, eu estava, por assim dizer, magnetizado pelo fluido de meus amigos espirituais; por uma permissão de Deus, daí devia resultar uma satisfação moral que, dizem eles, é a minha recompensa e, ademais, um encorajamento para marchar num caminho que meu Espírito percorre há um bom número de existências. 

Eu estava, pois, adormecido num sono magnético-espiritual; vi o passado formar-se num presente fictício; reconheci individualidades desaparecidas na esteira do tempo, ou melhor, que tinham sido um mesmo indivíduo. Vi um ser começar uma obra médica; um outro, mais tarde, continuar a obra que o primeiro deixara esboçada, e assim por diante. Cheguei a ver em menos tempo do que levo para vos dizer, de geração em geração, formar-se, crescer e tornar-se ciência, o que, no princípio, não passava dos primeiros ensaios de um cérebro ocupado em estudos para o alívio da Humanidade sofredora. Vi tudo isso, e quando cheguei ao último desses seres que sucessivamente tinham trazido um complemento à obra, então me reconheci. Então tudo se extinguiu e eu voltei a ser o Espírito ainda atrasado do vosso pobre doutor. Ora, eis aqui a explicação. Não vo-la dou para me envaidecer, longe disso, mas principalmente para vos fornecer um assunto de estudo, falando-vos do sono espiritual que, sendo elucidado por vossos guias, só me pode ser útil, pois assisto a todos os vossos trabalhos. 

Nesse sono, vi os diferentes corpos que meu Espírito animou em algumas encarnações e todos trabalharam na ciência médica, sem jamais se afastar dos princípios que o primeiro havia elaborado. Esta última encarnação não era para aumentar o conhecimento, mas simplesmente para praticar o que ensinava a minha teoria. 

Com tudo isto, fico sempre vosso devedor. Mas, se o permitirdes, virei pedir-vos lições, e eventualmente dar minha opinião pessoal sobre certas questões. 

DR. CAILLEUX 

Estudo 

Há aqui um duplo ensinamento: para começar, há o fato da magnetização de um Espírito por outros Espíritos, e do sono que se lhe segue; e, em segundo lugar, da visão retrospectiva dos diferentes corpos que ele animou. 

Há, pois, para os Espíritos, uma espécie de sono, o que é um ponto de contato a mais entre o estado corporal e o estado espiritual. É verdade que aqui se trata de um sono magnético; mas existiria para eles um sono natural semelhante ao nosso? Isto nada teria de surpreendente, quando se veem ainda Espíritos de tal modo identificados com o estado corporal que tomam seu corpo fluídico por um corpo material, que creem trabalhar como o faziam na Terra, e que sofrem fadiga. Se sentem fadiga, devem experimentar a necessidade de repouso, e podem crer deitar-se e dormir, como creem trabalhar e viajar em estrada de ferro. Dizemos que eles o creem, para falar do nosso ponto de vista, porque tudo é relativo, e em relação à sua natureza fluídica, a coisa é tão real quanto as coisas materiais o são para nós. 

Não são senão Espíritos de ordem inferior que têm semelhantes ilusões; quanto menos avançados, mais o seu estado se aproxima do estado corporal. Ora, este não pode ser o caso do Dr. Cailleux, Espírito adiantado que tem perfeita noção de sua situação. Mas não é menos verdade que ele teve consciência de um entorpecimento análogo ao sono, durante o qual viu suas diversas individualidades. 

Um membro da Sociedade explica esse fenômeno da seguinte maneira: No sono humano, só o corpo repousa, mas o Espírito não dorme. Deve dar-se o mesmo no estado espiritual; o sono magnético, ou outro, só deve afetar o corpo espiritual ou perispírito, e o espírito deve achar-se num estado relativamente análogo ao do Espírito encarnado durante o sono do corpo, isto é, conservar a consciência de seu ser. As diferentes encarnações do Sr. Cailleux, que os seus guias espirituais queriam fazê-lo ver, para sua instrução, puderam apresentar-se a ele como lembrança, da mesma maneira que as imagens se oferecem nos sonhos. 

Essa explicação é perfeitamente lógica. Ela foi confirmada pelos Espíritos que, provocando o relato do Dr. Cailleux, quiseram dar-nos a conhecer uma nova fase da vida de além-túmulo. 


 

VISÃO RETROSPECTIVA DAS EXISTÊNCIAS DO ESPÍRITO 

A propósito do Dr. Cailleux. 

Um dos nossos correspondentes de Lyon nos escreve o seguinte: 

“Fiquei surpreso que o Espírito do Dr. Cailleux tenha sido posto em estado magnético para ver desenrolar-se à sua frente o quadro de suas existências passadas (Revista de junho de 1866). Isto parece indicar que o Espírito em questão não as conhecia, porque, em O Livro dos Espíritos, eu leio que ‘Depois da morte, a alma vê e abarca de um golpe de vista suas emigrações passadas’ (Item 243). Esse fato não parece implicar uma contradição?” 

Não há aí nenhuma contradição, pois, ao contrário, o fato vem confirmar a possibilidade, para o Espírito, de conhecer suas existências passadas. O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; ele apenas apresenta as bases e os pontos fundamentais que se devem desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação. Ele diz, em princípio, que após a morte a alma vê as suas migrações passadas, mas não diz quando nem como isto se dá. Eis os detalhes de aplicação, que são subordinados às circunstâncias. Sabe-se que nos Espíritos atrasados a visão é limitada ao presente, ou pouco mais, como na Terra. Ela se desenvolve com a inteligência e à medida que eles adquirem consciência de sua situação. Ademais, não deveríamos acreditar que, mesmo em se tratando de Espíritos adiantados, como o Sr. Cailleux, por exemplo, tão logo eles tenham adentrado o mundo espiritual, todas as coisas lhes apareçam subitamente, como uma mudança de decoração ao vivo, nem que tenham constantemente sob os olhos o panorama do tempo e do espaço. Quanto às suas existências anteriores, eles as veem como uma lembrança, como vemos, pelo pensamento, o que éramos e fazíamos nos anos anteriores: as cenas de nossa infância, as posições sociais que ocupamos. Essa lembrança é mais ou menos precisa ou confusa, às vezes nula, segundo a natureza do Espírito, e conforme a Providência julgue conveniente apagá-la ou reavivá-la, como recompensa, punição ou instrução. É um grande erro crer que as aptidões, as faculdades e as percepções sejam iguais em todos os Espíritos. Como na encarnação, eles têm percepções morais e aquelas que podemos chamar de materiais, que variam conforme os indivíduos. 

Se o Dr. Cailleux tivesse dito que os Espíritos não podem ter conhecimento de suas existências passadas, aí estaria a contradição, pois isto seria a negação de um princípio admitido. Longe disto, ele afirma o fato; apenas as coisas nele aconteceram de maneira diferente do que nos outros, sem dúvida por motivos de utilidade para ele, e para nós é um motivo de ensinamento, pois isso nos mostra um dos lados do mundo espiritual. O Sr. Cailleux estava morto há pouco tempo; suas existências passadas podiam, pois, não se retratarem ainda claramente em sua memória. Notemos, além disso, que aqui não era uma simples lembrança; era a própria visão das individualidades que ele tinha animado; a imagem de suas antigas formas perispirituais que se lhe apresentavam. Ora, o estado magnético no qual ele se encontrou provavelmente era necessário à produção do fenômeno. 

O Livro dos Espíritos foi escrito na origem do Espiritismo, em uma época em que se estava longe de ter feito todos os estudos práticos que foram feitos depois. As observações ulteriores vieram desenvolver e completar os princípios cujo germe ele havia lançado, e é mesmo digno de nota que até hoje elas apenas os confirmaram, sem jamais contradizê-los nos pontos fundamentais. 

Fonte:

https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/900/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1866/5977/julho/vista-retrospectiva-das-existencias-do-espirito 


Mensagem de Encerramento

 

Paz a todos vocês, filhos. Que o Cristo ilumine nossos corações para que consigamos nos sensibilizar com a grandeza da vida, com o amor do Pai e com a generosidade do Mestre.

Esse Espírito possui história belíssima e um dia, não duvidem, teremos a historia dele estudada na Terra, pois assim é a psicologia deste amigo espiritual. Ele trabalha com projetos que ultrapassam muitos séculos e esta mensagem é uma mensagem excelente, porque um dia conhecereis todas as etapas deste Amigo, não para curiosamente e de forma desrespeitosa se meterem na intimidade de um espírito, mas para que vocês entendam como é precioso o momento presente.

Vocês hoje podem estar criando um jardim florido de beleza extrema para usufruir por toda a eternidade e outros, infelizmente, hoje, criam ondas de distúrbio que irá levar a loucura que levarão séculos para se esvair.

Filhos, amor de Deus é agir hoje para construir felicidade imperturbável. Consigamos nós entender, o valor do momento presente e as consequências milenares do que fazemos hoje para nos tornarmos dignos de conquistar uma felicidade inabalável.

Muita paz, do amigo espiritual de sempre.

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